O evangelho, nosso evangelho, está além do esforço e alcance do pensamento humano. Quando os homens tiverem se esforçado ao máximo em concepções originais, ainda assim, não terão assimilado o verdadeiro evangelho. Se é uma coisa tão comum como os críticos querem que acreditemos, por que então isso não surgiu nas mentes dos egípcios ou chineses? Grandes intelectos freqüentemente correm no mesmo sulco; porque, outras mentes grandes não correram nos mesmos sulcos que Moisés, ou Isaías, ou Paulo? Eu creio ser justo dizer que, se é algo tão comum na sua forma de ensino, poderia ter surgido entre os persas ou hindus; ou, certamente, poderíamos ter achado algo semelhante entre os grandes mestres da Grécia. Acaso algum desses conseguiu descobrir a doutrina da livre e soberana graça? Eles teriam cogitado sobre a encarnação e o sacrifício do Filho de Deus?
Não,
mesmo com o auxílio do nosso inspirado Livro, nenhum muçulmano, pelo meu
conhecimento, tem ensinado um sistema da graça na qual Deus é glorificado
quanto a Sua justiça, Seu amor, e Sua soberania. Essa religião tem proclamado
um certo tipo de predestinação que ela transformou num fatalismo cego; mas
mesmo com isso para os ajudar, e a vinculação com a divindade como uma luz
poderosa para os guiar, nunca conseguiram elaborar um plano de salvação tão
justo para Deus, e tão pacificador para uma consciência perturbada, como o
método de redenção baseado na substituição vicária do nosso Senhor Jesus
Cristo.
Vou
dar-lhes outra prova, que para mim é conclusiva, que nosso evangelho não é
"segundo os homens". E isto: o evangelho é imutável, e nada que o
homem pode produzir pode ser assim chamado.
Se
um homem faz um evangelho - e ele gosta de fazer isso tanto como uma criança
gosta de construir brinquedos - o que ele faz? Ele se encanta com o brinquedo
por alguns momentos, logo após arranca os pedaços do brinquedo, e o forma de
outra maneira. Faz isso continuamente. As religiões do "pensamento
moderno" são tão mutáveis como a névoa das montanhas. Veja com que
freqüência a ciência alterou suas próprias bases! A ciência é notoriamente
conhecida por ser muito científica na sua destruição de todo conhecimento
científico que antes existiu.
As
vezes tenho me saciado, em momentos de lazer, lendo história natural antiga, e
nada pode ser mais cômico. No entanto, isso não é de maneira alguma uma ciência
enigmática. Dentro de vinte anos, provavelmente alguns de nós achem grande
divertimento nos ensinos sérios da ciência da hora atual, semelhante ao que
achamos agora nos sistemas do século passado. Pode acontecer que, em pouco
tempo, a doutrina da evolução se torne numa galhofa para colegiais. O mesmo é
verdade sobre a moderna devoção que dobra seus joelhos em cega idolatria da
falsamente chamada ciência. Agora declaramos, de todo coração, que o evangelho
que pregamos quarenta anos atrás continuaremos a pregar por mais quarenta, se
ainda estivermos vivos. Ainda mais, afirmamos que o evangelho ensinado por
nosso Senhor e os Seus apóstolos, é o único evangelho que existe na face da
terra. Os eclesiásticos alteraram o evangelho, e se ele não viesse de Deus,
teria sido sufocado pela falsidade há muito tempo; mas, visto que o Senhor é o
autor do evangelho, ele perdura para sempre. Todo ser humano é lunático; desse
modo ele muda com cada fase da lua, porém a Palavra do Senhor não é
"segundo os homens" pois ela é a mesma ontem, hoje, e para sempre.
Reiteramos,
não pode ser "segundo os homens" porque ela se opõe ao orgulho
humano. Outros sistemas envaidecem os homens, mas este fala a verdade. Ouça os
sonhadores de hoje proclamando a dignidade da natureza humana! Quão sublime é
o homem! No entanto, mostre-me uma sílaba sequer na qual a Palavra de Deus se
envolve na exaltação do homem. Ao contrário, coloca-o no próprio pó e revela a
sua condenação.
Onde
está a jactância? é excluída: a porta fecha-se na sua cara. A auto-glorificação
da natureza humana é alheia às Escrituras, cujo principal objetivo é a glória
de Deus. Deus é tudo no evangelho que eu prego, e creio que Ele é supremo no
ministério de você também. Existe um evangelho na qual a obra e a glória são
divididas entre Deus e o homem, e a salvação não é inteiramente pela graça;
porém, em nosso evangelho "a salvação provém do Senhor".
O
homem jamais poderia inventar um evangelho que o humilhasse deveras, e que
atribuísse toda a glória, honra, e louvor ao Senhor Deus. Jamais planejaria tal
evangelho. Isso me parece ser claro, além de toda questão; portanto, nosso
evangelho não é "segundo os homens".
Outra
coisa, não é "segundo os homens" porque ele não dá nenhum abrigo ao
pecado. Ouvi falar de um inglês que se professou muçulmano porque ficou
encantado com a poligamia que o profeta árabe permite aos seus seguidores. Sem
dúvida a perspectiva de ter quatro esposas ganharia convertidos que não se
sentiriam atraídos por considerações espirituais. Se alguém pregar um
evangelho que faz concessões à natureza humana, e trata do pecado como se
fosse um engano em vez de grande ofensa contra Deus, encontrará ouvintes
ávidos. Se você providenciar absolvição a um pequeno custo, e aliviar a
consciência com um pouco de auto-renúncia, não seria de admirar se sua religião
entrasse em moda. Mas o nosso evangelho declara que o salário do pecado é a
morte, e que só podemos ter vida eterna como dom de Deus; e esse dom sempre
traz tristeza pelo pecado, ódio a ele e o apartar-se dele.
O
nosso evangelho nos ensina que o homem precisa nascer de novo, e que sem o novo
nascimento ele estará perdido para sempre, ao passo que, com ele, obterá
salvação eterna. O nosso evangelho não oferece desculpa ou cobertura para o
pecado, porém o condena completamente. Não apresenta perdão, exceto através da
expiação, e não oferece segurança nenhuma para o homem que abriga qualquer
pecado dentro de si. Cristo morreu pelo pecado, e nós precisamos morrer para o
pecado, ou morreremos eternamente. Se formos pregar o evangelho com fidelidade,
então devemos também pregar a Lei. Não se pode pregar plenamente a salvação
mediante o Senhor Jesus Cristo, sem colocar o Sinai como pano de fundo e o
Calvário na frente. Os homens precisam sentir a malignidade do pecado, antes
que possam apreciar o grande sacrifício que é o ápice e o cerne do nosso
evangelho. Isso não é agradável para esta ou qualquer outra época; por
conseguinte, eu tenho certeza que não foi inventado por homem algum.
Sabemos
que o evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo não é "segundo os
homens" porque o nosso evangelho é tão apropriado para os pobres e
iletrados. Os pobres, de acordo com sistema dos homens, são ignorados. O
parlamento tem cercado todas as áreas livres, de maneira que um homem pobre não
pode manter sequer uma ave. Não duvido que, se fosse viável e eficaz, logo
teríamos notícia de uma concorrência para distribuir títulos de posse das
estrelas entre certos senhores de renome. É evidente que há propriedades
excelentes nas regiões celestiais que ainda não se encontram registradas nos
cartórios da terra. Bem, seria mais fácil noticiar o sol, a lua, e as estrelas
do que o evangelho do Senhor Jesus. Este é o terreno do homem pobre. "Aos
pobres é pregado o evangelho". No entanto, não são poucos os que desprezam
um evangelho que os pobres podem ouvir e compreender; e podemos ter certeza que
o evangelho simples não veio deles, pois a sua inclinação não pende para essa
direção. Eles querem algo obscuro, ou, como eles dizem, "reflexivo".
Acaso não ouvimos este tipo de comentário: "Nós somos intelectuais, e
precisamos de um ministério culto. Esses pregadores evangelistas, servem muito
bem para assembléias populares, mas nós sempre fomos seletos, e requeremos
aquela pregação que está em dia com os tempos atuais"? Sim, sim, e a escolha
deles será alguém que não vai pregar o evangelho, a não ser de uma maneira
nebulosa; pois se ele realmente proclamar o evangelho de Jesus, os pobres com
certeza se farão presentes, e espantarão os grã-finos.
Irmãos,
nosso evangelho não tem nada com alto e baixo, rico ou pobre, negro e branco,
culto ou inculto. Se faz alguma diferença, ele prefere os pobres e oprimidos. O
grande Fundador diz: "Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra,
porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos
pequeninos". Louvamos a Deus que escolheu as coisas simples, e as
desprezadas. Eu ouço que o ministério de um homem tem sido elogiado - embora
sua congregação esteja diminuindo gradualmente -pois tal homem tem feito um
grande trabalho entre os jovens intelectuais. Confesso que não creio na
existência de tais jovens intelectuais; tenho visto que aqueles que se enganam
com coisas assim, geralmente podem ser considerados mais presunçosos do que
intelectuais. Os homens jovens são todos muito bons, como também as jovens
mulheres, e mesmo as mulheres idosas; mas eu fui enviado para pregar o
evangelho a toda criatura, e não posso limitar-me aos jovens intelectuais. Eu
certifico-lhes que o evangelho que tenho pregado não é "segundo os
homens", pois desconhece a seleção e exclusividade, porém, valorizo a alma
do varredor ou do lixeiro tanto como a do primeiro ministro ou a da sua
majestade, a rainha.
Finalmente,
temos certeza que o evangelho pregado por nós não é "segundo os
homens" porque eles não o levam em consideração. Ele é combatido até hoje.
Se
existe algo amargamente odiado, é o puro evangelho da graça de Deus,
especialmente se for mencionada a detestável palavra "soberania".
Atreva-se a dizer: "Ele terá misericórdia de quem tiver misericórdia, e
Ele terá compaixão de quem tiver compaixão," e os críticos furiosos vão
lhe revidar sem se pouparem. O religioso moderno não só odeia a doutrina da
graça soberana, mas ele ruge e se enfurece só em ouvi-la mencionada. Na
verdade, ele preferiria ouvir alguém blasfemar a ouvi-lo pregar a eleição pelo
Pai, expiação pelo Filho, e regeneração pelo Espírito Santo. Se quiser ver um
homem transtornado até que o satânico predomine, deixe que alguns dos neófitos
eclesiásticos ouçam você pregar um sermão sobre a livre graça. Um evangelho
"segundo os homens" será bem vindo pelos homens; porém, precisa de
uma operação divina no coração e na mente para tornar um homem disposto a
receber, no fundo de sua alma, este indigesto evangelho da graça de Deus.
Meus
queridos irmãos, não tentem fazer o evangelho aceitável às mentes carnais. Não
escondam a ofensa da cruz ou vocês a tornarão sem efeito. Os ângulos e os
cantos do evangelho são sua força, privá-lo destes é tirar o seu poder.
Disfarçá-lo não é aumentar sua força, e sim, levá-lo à morte. Ora, mesmo entre
as seitas, vocês já devem ter notado que seus pontos distintivos são os braços
de seu poder, e quando esses pontos são praticamente omitidos a seita perde seu
poder. Aprendam, então, que se tirarem Cristo do cristianismo, o cristianismo
estará morto. Se removerem a graça do evangelho, o evangelho deixa de existir.
Se as pessoas não gostam da doutrina da graça, dê-lhes isso intensamente. Mesmo
quando os opositores reclamam sobre um certo tipo de arma, um poder militar
sábio proverá muito mais dessa espécie de artilharia. Um grande general,
aproximando-se de seu rei tropeçou em sua própria espada. "Eu vejo",
disse o rei, "sua espada está lhe atrapalhando". O guerreiro
respondeu: "Os inimigos de sua majestade freqüentemente sentem o
mesmo". O fato de nosso evangelho ofender os inimigos do Rei não nos
entristece.
Queridos
amigos, se realmente não recebemos nosso evangelho de homens mas de Deus, então
continuemos recebendo a verdade através do divinamente designado canal da fé .
Porventura têm certeza que um dia realmente entenderão a Palavra de Deus? Para
a maioria de nós o entendimento é como um estreito portão de entrada para a
"cidade da Alma Humana", e as grandes coisas de Deus não podem ser
diminuídas para poderem passar por aquela entrada. A porta não é bastante
larga. Todavia, nossa cidade tem um grande portão chamado fé, através do qual
até o infinito e o eterno podem ser admitidos. Pare com este esforço inútil de
trazer à mente, pela razão, aquilo que tão facilmente pode habitar em você pelo
Espírito Santo através da fé.
Nós
que falamos contra o racionalismo somos inclinados a ser demasiadamente
racionais; e não há nada tão irracional quanto esperar receber as coisas de
Deus através da razão. Creiamos nelas através do testemunho divino, e quando
elas nos provarem ou mesmo parecerem ofender nossa sensibilidade humana, ainda
assim que as recebamos por serem divinas. Não devemos opinar sobre o que deve
ser a verdade de Deus; temos que aceitá-la como Deus a revela.
A
seguir, que cada um de nós aguarde oposição se ele receber a verdade do Senhor,
e especialmente oposição de uma pessoa que é próxima e querida por ele - a
saber - ele mesmo. Há um velho homem que ainda vive, e que não é um amante da
verdade, mas, pelo contrário, ele é um parceiro da falsidade. Ouvi um policial
dizer que quando esteve em Trafalgar Square, e uns sujeitos desprezíveis o
agrediam, assim como a outro policial, ele sentia um osso do velho homem
mexendo dentro dele. Ah, sentimos esse osso muito freqüentemente! A natureza
carnal se opõe à verdade, pois ela não está reconciliada com Deus, e nem, na
verdade, poderia estar. Oremos ao Senhor para vencer nosso orgulho, para que a
verdade nos domine, apesar de nosso coração mau. Quanto à oposição do mundo
exterior, não devemos estar alarmados com os fatos, pois fomos ensinados a
aguardá-los. Agora as oposições não nos preocupam. O capitão de um navio não se
importa se um borrifo d’água cair sobre ele.
Lembre-se,
se você não recebeu a verdade senão pelo poder do Espírito de Deus, não pode
esperar que os outros a recebam. Eles não crerão em seus relatos a não ser que
o braço do Senhor lhes seja revelado. Mas depois, se a fé for operada pelo
Espírito Santo, não precisamos temer que os homens possam destruí-la. Aqueles
que tentarem mudar a nossa crença bem podem ter dúvidas quanto ao seu sucesso
nessa proeza! Se a fé for operada divinamente em nossas almas, podemos vencer
todos os sofismas, elogios, tentações e ameaças. Seremos divinamente
obstinados; aqueles que tentarem nos perverter terão de desistir. Possivelmente
eles nos chamem de fanáticos, ou intolerantes, ou mesmo idiotas; mas isso
significa pouco se nossos nomes estiverem escritos no céu.
Em
conclusão podemos deduzir do nosso texto que se estas coisas nos vierem da parte
de Deus, podemos descansar completamente nelas. Se elas vieram de homens,
provavelmente nos falharão em meio a uma crise. Você alguma vez confiou em
homens sem ter se arrependido antes mesmo que o sol se pusesse? Alguma vez você
se apoiou num braço de carne sem descobrir que os melhores dos homens são
apenas homens no melhor dos casos? Mas se estas coisas vem de Deus elas são
eternas e totalmente suficientes. Podemos viver e morrer confiando no evangelho
eterno. Vamos viver mais e mais com Deus, e com Ele somente. Se temos recebido
luz dEle há mais bênçãos a serem alcançadas. Vamos àquele Mestre para
aprendermos mais das coisas profundas de Deus. Creiamos corajosamente no
sucesso do evangelho que temos recebido. Cremos nele, creiamos por ele. Não nos
desesperaremos embora a Igreja visível, como um todo, possa apostatar. Quando
os invasores cercaram Roma, e toda a região ficou à mercê deles, um terreno
estava à venda, e um romano o comprou por um valor justo. O inimigo estava lá,
mas ele seria desalojado. Talvez o inimigo destruísse o Estado romano. Deixe-o
tentar! Tenha você a mesma firmeza. O Deus de Jacó é o seu refúgio, e ninguém
pode resistir Seu eterno poder e deidade. O evangelho eterno é nossa bandeira,
e com Jeová para sustentá-lo, nosso padrão nunca baixará. No poder do Espírito
Santo a verdade é invencível. Venham, hostes do inferno e exército do inimigo!
Que a sutileza, a destreza, o racionalismo e o sacerdócio façam o pior que
puderem!
A
Palavra do Senhor dura para sempre -aquela mesma Palavra a qual pelo evangelho
é pregada entre os homens.
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