Inclina-me o coração a tua Palavra, e
não à cobiça.
Sal 119.36
Inclina-me o coração a tua Palavra. Esta oração não parece supérflua, já
que, evidentemente, o coração do salmista es¬tava posto na obediência? Estamos
convencidos de jamais haver sequer uma palavra sobrando [ou supérflua] na
Escritura. Depois de rogar por uma virtude ativa, era indispensável que o homem
de Deus rogasse para que seu coração fosse posto em tudo quanto ele fizesse. O
que seriam seus avanços se seu coração não avançasse também?
É
possível que Davi sentisse um desejo flutuante, uma propensão desordenada de
sua alma por lucros materiais; possivelmente, mesmo instruído em suas mais
devotas meditações, de repente clamasse por mais graça. A única forma de curar
uma inclinação errônea é manter a alma voltada para a direção oposta. A
santidade do coração é a cura para a cobiça. Que bênção podermos pedir ao
Senhor até mesmo uma inclinação!
Nosso
querer é livre; todavia, mesmo sem violar sua liberdade, a graça pode inclinar-nos
na direção certa. Isso pode ser feito através da iluminação do entendimento
quanto à excelência da obediência, através do fortalecimento dos hábitos de
nossa virtude, pela experiência da doçura da piedade e por muitos outros meios.
Se algum dever se nos torna maçante, cabe-nos oferecer-lhe esta oração com
especial referência; é preciso que amemos todos os testemunhos do Senhor; e se
falharmos em algum deles, então que prestemo-lhe duplicada atenção. A tendência
do coração é o caminho para o qual a vida se inclina; daí a força da petição:
"Inclina meu coração." Felizes seremos quando nos sentirmos
habitualmente inclinados a tudo quanto é bom! Esse não é o modo como um coração
carnal sempre se inclina; todas as suas inclinações estão em franca oposição
aos testemunhos divinos.
E
não à cobiça. Esta é a inclinação da natureza, e a graça tem de pôr um basta
nela. Este vício é tão injurioso quanto comum; é tão banal quanto miserável. É
idolatria, e portanto destrona a Deus; é egoísmo, e portanto é cruel a todos em
seu poder; é sórdida ambição, e portanto venderia o próprio Senhor por
dinheiro. É um pecado degradante, aviltante, obstinado, mortal, que destrói
tudo o que o rodeia, tudo o que é amável e cristão. O cobiçoso pertence à
confraria de Judas, que com toda probabilidade se tornará pessoalmente o filho
da perdição. O crime da cobiça é comum, porém bem poucos se dispõem a
confessá-lo; pois quando uma pessoa cumula ouro em seu coração, o pó dele
embaça seus olhos, de modo que não consegue divisar seu próprio erro. Nosso
coração provavelmente tenha algum objeto de desejo, e a única maneira de
isentá-lo do lucro profano é pondo em seu lugar os testemunhos do Senhor. Se
nos sentirmos inclinados a tomar uma vereda, seremos atraídos para outra; a
virtude negativa com certeza é mais facilmente dominada quando a graça positiva
predomina.
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