Devemos entender aquilo
que lemos na Palavra de Deus, sendo que de outra forma, lemos em vão,
reconhecemos que quando passamos ao estudo das Escrituras Sagradas devemos
esforçar-nos para ter nossa mente bem atenta. Parece-me que nem sempre estamos
em boas condições para ler a Bíblia.
As vezes, seria bom
fazermos uma pausa antes de abrirmos o Livro. "Tira as sandálias dos pés,
porque o lugar em que estás é terra santa." Você acabou de chegar de seus
negócios seculares, com seus cuidados e ansiedades, e não consegue pegar
naquele Livro e imediatamente penetrar nos seus mistérios celestiais. Assim
como você pede a bênção sobre sua refeição antes de começar a comer, também
seria uma boa regra pedir uma bênção sobre sua leitura da Palavra antes de
ingerir sua comida celestial. Ore para que o Senhor abra os seus olhos
espirituais, antes de você ousar olhar para a luz eterna das Escrituras.
A leitura bíblica é a
hora de nossa refeição espiritual. É só tocar a sineta e convidar todas as
faculdades mentais à mesa do próprio Senhor para fartar-se com a comida que
agora está pronta; ou, melhor, que soe como o toque dos sinos da igreja em
convite para a adoração, porque o estudo das Sagradas Escrituras deve ser uma
ação tão solene como nosso ato de adoração na casa do Senhor.
Se a leitura começar
dessa forma, você perceberá imediatamente que, para compreender aquilo que lê,
precisará meditar a respeito. Alguns trechos bíblicos ficam claros diante dos
nossos olhos — baixos abençoados onde os cordeiros podem chapinhar; existem, no
entanto, profundezas onde nossa mente poderia antes afogar-se do que nadar com
prazer, se ela chegasse até lá sem cautela. Existem textos das Escrituras que
foram feitos e construídos com o propósito de nos levar a pensar. Por esse
meio, inclusive, nosso Pai celestial quer nos educar para o céu — fazendo-nos
penetrar nos mistérios divinos com a nossa mente.
Por isso, Ele nos
oferece a sua Palavra de uma forma às vezes complexa, para nos compelir a
meditar sobre ela, antes de chegarmos à sua doçura. Ele poderia ter explicado
tudo de tal maneira que captássemos o pensamento num só minuto, mas não foi da
vontade dEle fazer assim em todos os casos. Muitos dos véus que são lançados
sobre as Escrituras não têm a intenção de ocultar o significado aos leitores diligentes,
mas de compelir a mente a ser ativa, pois muitas vezes a diligência do coração
em procurar saber a vontade divina faz mais bem ao coração do que a própria
sabedoria obtida. A meditação e o esforço mental cuidadoso servem como
exercício e fortalecimento da alma, que passa a ficar em condições de receber
verdades ainda mais sublimes.
Precisamos meditar.
Essas uvas não produzem vinho até serem pisadas por nós. Essas azeitonas
precisam ser colocadas debaixo da roda, e prensadas repetidas vezes, para que o
azeite flua delas. Olhando para um punhado de nozes, percebemos quais delas já
foram comidas, porque há um buraquinho onde o inseto furou a casca — só um
buraquinho, e lá dentro há uma criatura vivente comendo a noz. Ora, é uma coisa
maravilhosa furar a casca da letra, para então ficar por dentro comendo a
própria noz. Bem que eu gostaria de ser um vermezinho assim, vivendo dentro da
Palavra de Deus, alimentando-me dela, depois de ter aberto caminho através da
casca e ter chegado ao mistério mais interior do evangelho bendito. A Palavra
de Deus sempre é mais preciosa para o homem que mais se alimenta dela.
No ano passado, sentado
debaixo de uma faia nogueira que se estendia em todas as direções, e admirando
aquela árvore tão maravilhosa, pensei comigo mesmo: Não tenho nem a metade da
estima por essa faia do que o esquilo tem. Vejo-o, pulando de galho em galho, e
tenho certeza que ele dá muito valor àquela velha faia, porque tem seu lar em
algum oco dentro dela, os galhos são o seu abrigo, e aquelas nozes de faia são
o seu alimento. Ele vive da árvore. É seu mundo, seu pátio de recreio, seu
celeiro, seu lar; realmente, é tudo para ele; mas para mim, não, porque obtenho
meu repouso e minhas refeições em outro lugar. No caso da Palavra de Deus, é
bom sermos como esquilos, habitando nela e vivendo dela. Exercitemos nossa
mente, pulando de galho em galho na Palavra; achemos nela o nosso repouso e
façamos dela o nosso tudo. O proveito será todo nosso, se fizermos dela nosso
alimento, nosso remédio, nosso tesouro, nosso arsenal, nosso repouso, nossa
delícia. Que o Espírito Santo nos leve a fazer assim, tornando a Palavra tão
preciosa à nossa alma!
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