"Sem fé é
impossível agradar a Deus" porque é impossível perseverar na santidade sem
fé. Quantos cristãos de tempo bom existem em nossos dias! Muitos cristãos se
parecem com náutilos, que com. tempo bom e agradável nadam na superfície do mar
em pequenos cardumes muito bonitos como navios poderosos, mas assim que a
primeira lufada de vento agita a água, eles recolhem as velas e submergem nas
profundezas. Muitos cristãos são assim. Em boa companhia, em salas de culto
evangélicas, em grupos de estudo em casa, em capelas e reuniões do conselho
eles são tremendamente espirituais; porém quando são expostos a um pouco de
ridículo, se alguém sorri para eles e os chama de metodistas ou presbiterianos
ou algum nome depreciativo, acabou a religiosidade deles até o próximo dia de
tempo bom. Então, quando tudo está bem e a religião atende a suas aspirações,
lá vão eles levantar as velas, e são espirituais como antes.
Se alguém não ama a
Deus, que não diga o contrário; mas se é um cristão de verdade, um seguidor de
Jesus, que o diga e se garanta. Não há por que envergonhar-se disso; a única
razão de se envergonhar é de ser hipócrita. Sejamos honestos naquilo que
professamos, e isso será nossa glória. O que você faria sem verdadeira fé em
épocas de perseguição?! Vocês, pessoas boas e consagradas que não têm fé, o que
vocês fariam se a estaca fosse novamente erigida em Smithfield e novamente as
chamas reduzissem os santos a cinzas? Se a torre dos lolardos fosse novamente
aberta, se a tortura fosse aplicada, o tronco usado, como já foi tantas vezes
na história da igreja.
Mesmo se a forma mais
branda de perseguição fosse reiniciada, como as pessoas se espalhariam em todas
as direções! Alguns dos pastores também abandonariam seus rebanhos. Contarei
mais uma história e espero com isso levá-los a ver a necessidade da fé, enquanto
me encaminho à última parte do meu discurso. Um americano dono de escravos, na
ocasião de comprar mais um, disse ao mercador com quem estava barganhando:
— Diga-me honestamente: quais são seus
defeitos? — O vendedor respondeu:
— Que eu saiba, ele tem só um defeito: ele
costuma orar.
— Bem — disse o comprador, — eu não gosto
disso, mas conheço algo que vai curá-lo rapidamente desse defeito.
Assim, no dia seguinte
o escravo foi surpreendido por seu patrão quando orava com fervor em meio à
plantação, intercedendo por este, a esposa dele e sua família. O homem ficou
parado ouvindo, e não disse nada no momento; mas, na manhã seguinte, chamou-o e
disse:
— Não quero brigar com você, meu homem, mas
não quero que ore na minha propriedade; portanto, pare com isso.
— Patrão — respondeu este, — não consigo
parar de orar; tenho que orar sempre.
— Vou ensinar você a orar se continuar com
isso!
— Patrão, tenho de orar.
— Bem, vou lhe dar vinte e cinco chicotadas
por dia até que você pare.
— Patrão, mesmo que me dê cinqüenta, tenho de
orar.
— Se é assim que você é rebelde com seu patrão,
vai ter logo o que merece.
— O patrão amarrou-o no pelourinho, deu-lhe vinte e
cinco chicotadas e perguntou se iria orar de novo.
— Sim, patrão, tenho de orar sempre; não
consigo parar. O patrão olhou atônito; não conseguia compreender como um pobre
santo podia continuar orando quando não parecia lhe fazer nenhum bem, só
perseguição. Contou à sua esposa do ocorrido. Sua esposa lhe disse:
— Por que você não pode deixar o pobre homem
orar? Ele faz bem o seu trabalho; você e eu não ligamos para a oração, mas não
há mal algum em deixá-lo orar, se ele cumprir com suas tarefas.
— Mas eu não gosto disso — disse o patrão. —
Ele sempre me deixa muito assustado. Você devia ver como ele olha para mim.
— Ele estava com raiva?
— Não. Eu não devia me preocupar com isso,
mas depois que eu o tinha surrado ele olhou para mim com lágrimas nos olhos,
como se tivesse mais pena de mim do que de si mesmo.
Naquela noite o patrão
não conseguiu dormir. Ele rolava na cama de um lado para outro; seus pecados
lhe foram trazidos à memória, e ele se conscientizou de que tinha perseguido um
santo de Deus. Sentando-se na cama, ele disse à sua esposa:
— Mulher, você poderia orar por mim?
— Eu nunca orei em toda a minha vida — ela
respondeu. — Não sei orar por você.
— Estou perdido — disse ele, — se alguém não
orar por mim; não posso orar por mim mesmo. —
Eu não sei de ninguém aqui na propriedade que saiba orar, a não ser Cuffey, o
novo escravo — disse sua esposa. Fizeram soar a campainha, e Cuffey foi
trazido. Tomando a mão de seu servo negro, o patrão disse:
— Cuffey, você pode orar por seu patrão?
— Patrão, estou orando pelo senhor desde que
me chicoteou, e pretendo orar sempre pelo senhor. Cuffey caiu de joelhos e
derramou sua alma em lágrimas, e ambos, marido e esposa, foram convertidos.
Aquele homem não poderia ter feito isto sem fé. Sem fé ele teria ido
embora na mesma hora, dizendo:
— Patrão, vou parar de orar; não quero mais o
chicote do homem branco.
Mas porque ele perseverou
por sua fé, o Senhor honrou-a e lhe deu a alma do seu patrão por salário.
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