“Se eu não viera, nem
lhes houvera falado, não teriam pecado, mas
agora não têm desculpa do seu pecado” (João 15.22).
Uma capa é cobertura
muito frágil para o pecado quando existe um olho que tudo vê contemplando
através dela. No Grande Dia da tempestade da Ira de Deus, uma capa será um
abrigo muito pobre. Apesar de tudo o homem sempre gostar de um manto. Nos dias
de chuva e frio vemos homens recolhidos sobre seus mantos, e ainda que não
tenham abrigo e refúgio, se sentem ligeiramente confortáveis com seu vestuário.
O mesmo se dá com
vocês, juntos buscarão, caso possam, alguma desculpa para seus pecados, e
quando a consciência incomodar, vocês tentarão cicatrizar a ferida com essa
desculpa. E até mesmo no Dia do Juízo, quando uma capa será abrigo muito pobre,
será melhor que nada. “Mas agora não tem desculpa do seu pecado”. O viajante
foi deixado na chuva desprovido de sua capa, exposto a tempestade sem a roupa
que um dia lhe serviu de abrigo.“Mas agora não tem desculpa do seu pecado” –
descobertos, identificados e desmascarados, encontram-se sem desculpas, sem uma
capa que esconda sua iniqüidade. Permitam-me, agora, demonstrar como a pregação
do Evangelho, quando fielmente realizada, tira todas as capas do pecado.
Em primeiro lugar, um
homem pode se levantar e dizer: “Eu não sabia que estava pecando quando cometi
essa e aquela iniqüidade”. Agora, vocês não podem dizer isso. Através da sua
Lei tem Deus lhes falado solenemente o que é errado. Ali estão os Dez
Mandamentos, e lá está o comentário do nosso Mestre, onde ele tem explicado o
Mandamento, dizendo-nos que a velha lei de “não cometerá adultério”, proíbe
também todos os pecados do olhar malicioso e lascivo. Se o selvagem comete
iniqüidade, há uma capa para ele. Não duvido que sua consciência lhe diga que
ele age errado, mas seus livros sagrados ensinam que ele age corretamente, e
por isso ele tem essa capa. Se o mulçumano comete luxúria, não duvido que sua
consciência o acuse, mas seus livros sagrados lhe inocentam. Mas vocês dizem
crer em suas Bíblias, as têm em suas casas, e têm pregadores que as anunciam em
todas as suas ruas; quando vocês pecam, transgridem com a proclamação da Lei
sobre seus muros, diante de seus olhos – vocês deliberadamente quebram uma Lei
bem conhecida, que desceu dos céus e veio até vocês.
Ainda poderão dizer:
“Quando pequei não sabia quão grande seria a pena”. Também nisso, através do
Evangelho, vocês são deixados sem desculpas. Não lhes disse Jesus Cristo, e
lhes diz dia após dia, que aqueles que não o recebem serão lançados nas trevas
exteriores, onde haverá pranto e ranger de dentes? Acaso ele não lhes falou “E
irão estes para o tormento eterno, mas os justos, para a vida eterna” ?. Não
disse Ele que os ímpios serão queimados com fogo que não se extingue? Não lhes
disse de um lugar onde o verme não morre e onde o fogo não se apaga? E os
ministros do Evangelho não têm deixado de lhes ensinar o mesmo. Vocês pecaram,
mesmo sabendo qual seria a perda fazê-lo. Pegaram o copo de veneno, sabendo que
não era inofensivo, sabiam que cada gota no copo ardia com a condenação, mesmo assim
pegaram o copo e beberam até a última gota. Destruíram suas próprias almas,
estando seus olhos bem abertos; caminharam como loucos para a tortura e como o
boi ao matadouro; feito um cordeiro vocês lamberam a faca do açougueiro. Estão
sem desculpa.
Alguns dentre vocês
poderão tentar: “É verdade que ouvi o Evangelho e que sabia que meus atos eram
errados, mas eu não sei o que é preciso para ser salvo!”. Há, porventura, ao
menos um dentre vocês que possa se valer dessa desculpa? Acredito que não terão
a ousadia! “Creia e viverá” é anunciado todos os dias em seus ouvidos. Muitos
de vocês que ao longo de dez, vinte, trinta, quarenta ou cinquenta anos têm
estado a ouvir o Evangelho, não se atreveriam a dizer: “Eu não sabia o que é o
Evangelho!”. Muitos de vocês já o conhecem desde a infância. O nome de Jesus se
misturava ao embalo suave das canções de ninar. Beberam do Evangelho sagrado
junto com o leite materno, e apesar de tudo, não procuraram Jesus. “Saber é
poder!”, dizem os homens. Ai de mim! O conhecimento, se não utilizado, é a Ira,
e a Ira ao extremo contra aquele homem que sabendo ainda assim fez o que era
errado.
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