"Pois muitos andam entre
nós, dos quais, repetidas vezes eu vos dizia e, agora, vos digo, até chorando,
que são inimigos da cruz de Cristo. O destino deles é a perdição, o deus deles
é o ventre, e a glória deles está na sua infâmia, visto que só se preocupam com
as coisas terrenas". (Fil. 3:18,19).
O fim deles é a
perdição. Ouçam, meus irmãos! O fim dos formalistas será a perdição, - e ouso
acrescentar, a pior das perdições. Sim, se há no inferno cadeias mais pesadas
que as outras; se há prisões escuras, chamas mais ardentes, angústias mais
cruéis, tormentos mais intoleráveis, certamente serão a experiência daqueles
cuja profissão de fé não tem sido mais que uma indigna mentira!
Na verdade, de minha
parte, preferiria morrer pecador abominável, que cristão hipócrita. Oh! Que
terrível despertar de uma alma que, depois de ter tido a experiência de viver
neste mundo, ser jogada com os mentirosos no outro; aquele que, depois de ser
elevado até os céus aqui debaixo, se vê rebaixado até o inferno na eternidade!
E quanto mais o formalista se deixe seduzir, mais terrível será sua desilusão.
Ele havia pensado ter levado a seus lábios a taça cheia das delícias do
paraíso, e no lugar disso, se vê condenado a beber até a borra da bebida do
inferno! Ele contava entrar sem dificuldade pelas portas da Nova Jerusalém, e
eis que as encontra fechadas!
Ele imaginava que para
ser admitido na sala de núpcias, bastaria gritar: Senhor, Senhor, e em vez
disso ouve ser pronunciado contra ele, não simplesmente a maldição geral
dirigida à massa de pecadores, mas esta sentença, mil vezes mais terrível e
amarga, porque ela é mais direta e pessoal: “Retira-te de mim, eu jamais te
conheci! Ainda que tu tenhas comido e bebido em minha presença, ainda que
tenhas entrado em meu santuário, tu és um estrangeiro para mim e eu o sou para
ti!” Meus irmãos, um tal destino, mais lúgubre que o sepulcro, mais horrível
que o inferno, mais desesperador que o desespero, tal destino será,
inevitavelmente, a experiência desses pretensos cristãos cujo Deus é o ventre,
que põem sua glória naquilo que é enganoso, e que colocam seu coração nas
coisas da terra.
E agora, permitam-me,
antes de terminar, responder a diversos pensamentos que podem ilustrar o que
vocês acabaram de ouvir. Se não estou errado, alguns dentre vocês estão dizendo
neste momento: “Eis aí um pregador que não poupa as Igrejas; e ele tem razão.
Ele nos faz ouvir duras verdades. Quanto a mim, divido com ele o mesmo ponto de
vista: essa gente que faz profissão de fé e que tem aparência de santo, é gente
hipócrita e impostora. Eu sempre achei que não há um que seja sincero.” Pára
aí, meu amigo. A Deus não agradaria se eu tivesse dito algo parecido com o que
você disse aí! Eu seria muito culpado se tivesse feito. Há mais: eu sustento
que o fato de existir hipócritas é uma prova irrefutável que existem também
cristãos sinceros.
“Como é isso?” Você me
pergunta. É bem simples, meu querido ouvinte. Você creria que há dinheiro falso
no mundo, se não houvesse a moeda verdadeira? Você acha que se poria a falsa em
circulação, se não houvesse a de boa qualidade?
Evidentemente, não. A
falsificação pressupõe, necessariamente, a existência da coisa falsificada. Se
não existisse piedade verdadeira, também não existiria a falsa. Assim, como é o
valor da moeda que faz com que o falsário a reproduza, também é a excelência do
caráter cristão que dá a idéia a certas pessoas de o imitar. Não tendo a
realidade, eles querem ao menos a aparência; não sendo de ouro puro, eles se
revestem para dar uma aparência de que são. Eu lhes digo de novo, e o mais simples
bom senso basta para que compreendam: porque há falsos cristãos, deve haver
necessariamente os verdadeiros.
“Bem falado!” Pensa
talvez um outro de meus ouvintes; “sim, graças a Deus, existem os sinceros e
verdadeiros cristãos, e tenho a felicidade de ser um deles. Nunca tive dúvida
nem medo em relação a isso; eu sei que sou um eleito de Deus, e ainda que, é verdade,
eu não me conduza sempre como poderia desejar, ouso dizer que se eu não vou
para o céu, poucos irão.
Assim, pregador do
Evangelho, dê suas advertências a outro! Há mais de vinte anos sou membro da
Igreja; há mais de dez anos tenho a honra de assentar-me no Conselho de
presbíteros; eu gozo da consideração de meus irmãos; nada poderia abalar minha
confiança. Quanto a meu vizinho, que seja; isso é outra coisa. Creio que fará
bem em assegurar-se da realidade de sua conversão; mas, ainda uma vez, no que
me diz respeito, tudo está bem; eu estou tranqüilo.”
Ah! Meu querido
ouvinte, você me perdoaria se lhe dissesse que seu excesso de segurança me
inspira as mais graves inquietações? Se você nunca teve medo sobre a qualidade
de sua piedade, eu que começo a tê-lo; se você alguma vez não duvida de você
mesmo, eu só posso tremer; Por que? Lhe direi: eu tenho observado que todos os
filhos de Deus têm uma extrema desconfiança a respeito deles mesmos; e que eles
temem ser iludidos mais do que qualquer outra coisa. Nunca encontrei um
verdadeiro crente que estivesse contente com seu estado espiritual. Portanto,
depois que você se declarou tão particularmente satisfeito com seu estado, me
desculpe, mas não posso, em verdade, apor minha assinatura sobre o certificado
de piedade que você se deu. Pode ser que você seja muito bom; entretanto,
suporte o meu conselho de examinar-se para ver se você está na fé; por medo
que, estando inflado em seu senso carnal, você não caia nas armadilhas do
maligno.
Nunca seguro demais, é
uma divisa que convém perfeitamente ao cristão.
Observe-se, tanto
quanto possível, a confirmar sua vocação e sua eleição; mas, jamais tenha uma
opinião muito alta a respeito de si mesmo; guarde-se da presunção. Quantos
homens excelentes a seus próprios olhos, que são demônios aos olhos de Deus!
Quantas almas muito piedosas na opinião da Igreja, que não são mais que nódoas
diante do Santo dos santos! Que cada um de nós prove a si mesmo, e digamos como
o Salmista: Ó, Forte Deus! Sonda-me e conhece o meu coração; vê se há em mim
algum mau caminho e conduza-me pelo caminho eterno (Sl 139:24).
Meus amados, se as
advertências que acabamos de ouvir, tiverem como resultado fazer nascer em
vocês pensamentos tais, que lhes inspirem a uma oração como a do salmista, eu
louvarei a Deus do fundo de minha alma por ter-me permitido lhas dirigir.
Enfim, há certamente
aqui alguns desses espíritos levianos e despreocupados, aos quais pouco
importa, dizem eles, pertencer ou não a Cristo. Eles esperam viver como no
passado, esquecidos de Deus, indiferentes às suas ameaças e desprezando o seu
nome. Insensatos e cegos! O dia virá, saiba você, quando seu riso se tornará em
choro, quando você sentirá a necessidade desta religião que hoje você desdenha!
A bordo do navio da vida, navegando sobre um mar calmo, você agora zomba do
barco de salvação; mas espere a tormenta, e você quererá embarcar no barco a
qualquer preço. Agora você não faz nenhum caso do Salvador, porque lhe parece
que você não tem nenhuma necessidade dele; mas quando a morte lhe pegar, quando
vier a tempestade da cólera divina, - (observem bem isto, ó pecadores!) – você
que agora não quer clamar por Cristo, você berrará após ele! Você que agora se
recusa a chamá-lo, o perseguirá, então, com o seu grito de desespero! Seu
coração que agora não prova nenhum desejo de o possuir, clamará após ele, em
uma inexprimível angústia.
Voltai, voltai!
Convertei-vos; por que morreríeis, ó casa de Israel.
Oh! Queira o Senhor vos
levar a ele, e fazer de vós seus sinceros e verdadeiros filhos, de sorte que
vosso fim não seja a perdição, mas que sejais salvos desde agora e por toda a
eternidade.
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