"Antes de ser afligido,
eu andava errante, mas agora guardo tua palavra." – Salmo 119.67
Antes
de ser afligido, eu andava errante. Em parte, quem sabe,
pela ausência de provação. As vezes nossas provações funcionam como uma cerca
de espinho a proteger-nos na boa pastagem; nossa prosperidade, porém, é uma
fenda através da qual nos extraviamos.
Se algum de nós se
lembra de alguma vez em que não tinha provação, provavelmente também recorde
que então a graça era lenta e a tentação muito forte. E provável que algum
cristão clame: “Oh, está acontecendo comigo o mesmo que naqueles dias antes de
ser afligido!” Esse é um lamento muito estulto, e procede de um amor carnal por
boa vida. A pessoa espiritual que prega o crescimento em graça bendirá a Deus
pelo fato de que aqueles dias podem vir; e se o tempo for tempestuoso demais,
isso também será muito saudável.
E bom quando a mente é
aberta e cândida, como no presente caso. E provável que Davi jamais houvera
conhecido e confessado seus próprios extravios, não fora ele golpeado pela vara
divina. Por que razão um pouco de tranqüilidade nos causa tanta mazela? Nunca
podemos descansar sem entorpecer-nos? Nunca estar cheios sem engordar? Nunca
subir em relação a um mundo sem descer em relação ao outro? Que criaturas somos
sendo incapazes de suportar um pouco de prazer?! Que corações vis são os que
convertem a abundância da bondade divina em ocasião para pecar?!
Mas agora guardo tua
palavra. A graça está no coração que tira proveito de sua disciplina. Não
existe proveito algum em arar um solo improdutivo. Quando não há vida
espiritual, a aflição não produz benefício espiritual. Mas quando o coração é
saudável, a dificuldade desperta a consciência, o desvio é confessado, a alma
se torna uma vez mais obediente ao mandamento e continua firme nessa vereda.
Chorar não converte um
rebelde em filho; mas ao verdadeiro filho um toque de vara é um corretivo
infalível. No caso do salmista, a medicina da aflição operou uma mudança -
“mas”; uma mudança imediata - “agora”; uma mudança final - “guardo”; uma
mudança em direção a Deus - “tua palavra”. Antes que lhe sobreviesse
tribulação, ele andou errante; mas depois que conservou no íntimo a cerca da
Palavra, e deparou-se com boa pastagem para a alma, a provação o acorrentou a
seu devido lugar; ela o guardou, e ele, por sua vez, guardou a palavra de Deus.
Doces são as utilidades da adversidade, e esta é uma delas. Ela põe um freio na
transgressão e fornece uma espora para a santidade.
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