Não estejam jamais
satisfeitos até que aprendam o mistério das cinco chagas – jamais estejam
contentes enquanto não “poderdes perfeitamente compreender, com todos os
santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade, e
conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento .(Efésios 3:18)”
O poder de Jesus Cristo
para limpar do pecado reside primeiro, na grandeza de Sua pessoa. Não é
concebível que os sofrimentos de um simples homem, não importando qual santo ou
grande poderá ter sido, expiasse os pecados da multidão inteira do povo
escolhido do Senhor. Foi devido a que Jesus Cristo era uma das pessoas da
Divina Trindade, devido que o Filho de Maria era nada menos que o Filho de
Deus, devido que Aquele que viveu, trabalhou, sofreu e morreu, era o grandioso
Criador, sem quem nada do que foi criado, foi feito, que Seu sangue tem tal
eficácia que pode lavar e deixar tão limpos aos mais negros pecados, quem ficam
“mais brancos que a neve.” A morte do melhor homem que tenha existido jamais
poderia fazer uma expiação sequer por seus próprios pecados, muito menos
poderia expiar a culpa de outros – mas quando Deus mesmo “esvaziou-se a si
mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; (Filipenses
2.7)” e “achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até
à morte, e morte de cruz.(v.8) ”, Não se pode colocar nenhum limite ao valor da
expiação realizada por Ele.
Nós sustentamos
firmemente a doutrina da redenção particular: que Cristo amou a Igreja, e se
entregou a si mesmo por ela; mas nós não sustentamos a doutrina do valor
ilimitado de Seu precioso sangue. Não pode haver nenhum limite para a Deidade;
tem que existir um valor infinito na expiação que foi oferecida por Aquele que
é divino. O único limite da expiação está em seu desígnio, e esse desígnio foi
que Cristo desse a vida a todos quantos lhe foram dados pelo Pai; porém, em si
mesma, a expiação seria suficiente para a salvação do mundo inteiro, e se a
raça inteira da humanidade fora conduzida a crer em Jesus, haveria suficiente eficácia
em Seu sangue precioso para limpar todo aquele nascido de mulher, de todo
pecado que todo o conjunto deles jamais houvesse cometido.
Mas o poder do sangue
limpador de Jesus radica também nos intensos sofrimentos que suportou a fazer
expiação por Seu povo. Não houve jamais um caso como o do nosso precioso
Salvador. No que consiste a Seus sofrimentos físicos, pode ter existido alguns
que tenham suportado tanto como Ele, pois o corpo humano só é capaz de certa
quantidade de dor e agonia, e outras pessoas junto com nosso Senhor alcançaram
esse limite – porém, houve um elemento em Seus sofrimentos que nunca esteve
presente em nenhum outro caso. O fato de que Sua morte foi no lugar, posição e
em substituição de Seu povo, o único grande sacrifício pela totalidade de Seus
redimidos, faz que Sua morte seja inteiramente única, de tal maneira que nem
mesmo o mais nobre do exército de mártires pode participar da glória com Ele.
Seus sofrimentos mentais também constituíram uma parte vital da expiação: os
sofrimentos de Sua alma foram a essência mesma de Seus sofrimentos. Se você
pode compreender a amargura da traição que Ele sofreu por um que tinha sido seu
seguidor e amigo, e o abandono que experimentou por parte de todos os Seus
discípulos, a acusação formal de sedição e blasfêmia diante das criaturas que
Ele mesmo tinha criado – se puderem compreender o que foi para Ele, que não
cometeu pecado, ser feito pecado por nós, e que fosse colocada sobre Ele a
iniquidade de todos nós – se pudessem ter uma ideia de quanto aborrecia o
pecado e se apartava dele, poderiam formar uma ligeira ideia do que Sua
natureza pura sofreu por nossa culpa.
Nós não nos apartamos
do pecado como Cristo o fazia, porque estamos acostumados a ele – uma vez foi o
elemento no qual vivíamos, movíamos e existíamos – mas Sua natureza santa
rejeita o mal assim como uma planta sensível se recolhe quando é tocada. Porém,
Seus piores sofrimentos devem ter sido quando a ira de Seu Pai foi derramada
sobre Ele, ao suportar o que Seu povo merecia suportar, mas agora jamais terá
que suportar –
“As ondas da crescente
dor
Batem contra Seu peito,
Montanhas de ira
onipotente
Pesavam sobre Sua alma”
O fato que Seu Pai
tenha escondido Seu rosto Dele te tal forma que clamasse em Sua agonia: “Deus
meu, Deus meu, por quê me desamparaste?”, deve ter sido um autêntico inferno
para Ele. Esse foi o tremendo gole de ira que nosso Salvador bebeu por nós até
suas ultimas gotas, para que nosso copo não pudesse jamais ter nem um restinho
de ira sequer sobrando. Deve de ter sido uma grande expiação, essa que foi
comprada a um preço tão grande.
Podemos pensar na
grandeza da expiação de Cristo de outra forma. Tem que ter sido uma grande
expiação essa que tem transportado de forma segura a multidões de pecadores ao
céu, e que tem salvado a tantos grandes pecadores e os tem transformado em
refulgentes santos. Tem que ser uma grande expiação essa que há de levar ainda
inumeráveis miríades à unidade da fé e a glória da igreja dos primogênitos, que
estão inscritos no céu.
É uma expiação tão
grande, pecador, que, se você confia nela, será salvo por ela sem importar
quantos e quão graves poderiam ter sido seus pecados. Você tem medo de que o
sangue de Cristo não seja potente o suficiente para limpar-lhe? Por acaso teme
que Sua expiação não possa suportar o peso de um pecador como você?
Fiquei sabendo, outro
dia, sobre uma mulher néscia de Plymouth, que durante um bom tempo não queria
passar sobre a ponte de Saltash porque não a considerava segura. Quando, depois
de ver o enorme tráfego que passava com segurança sobre a ponte, foi induzida a
ter confiança nela, tremia muito por todo o tempo em que passava sobre nela, e
não teve tranquilidade mental até que a deixou para trás. Claro que todo mundo
riu dessa mulher, por pensar que essa estrutura tão sólida não pudesse suportar
seu levíssimo peso.
Poderia ser que exista
hoje nesse prédio algum pecador que tenha medo de que a grande ponte que a
eterna misericórdia construiu a um custo infinito, através do abismo que nos
separa de Deus, não seja suficientemente forte para suportar seu peso. Se for
assim, permita-me lhe assegurar que através dessa ponte do sacrifício
expiatório de Cristo, já cruzaram milhões de pecadores tão vis e corruptos como
esse tal, e a ponte nem mesmo trepidou sob tal peso, e nenhuma de suas partes
ao menos trincou ou jamais descolou.
Meu pobre amigo
temeroso, sua ansiedade de que a grande ponte da misericórdia não seja capaz de
suportar seu peso, me faz lembrar a fábula do pernilongo que pousou sobre a
orelha de um touro, e depois estava preocupado porque o forte animal poderia se
incomodar com seu “enorme” peso. É bom que você tenha uma vivida compreensão do
peso de seus pecados, mas ao mesmo tempo, deve também entender que Jesus
Cristo, em virtude de Sua grande expiação, não só é capaz de suportar o peso de
seus pecados, mas também pode levar, e verdadeiramente já levou sobre seus
ombros, os pecados de todos os que crerão Nele até o próprio fim dos tempos:
levou-os à terra do esquecimento, onde jamais serão recordados ou recuperados.
O sangue do pacto eterno é tão eficiente que mesmo você, assim sujo como está,
pode orar como Davi: “Lava-me, e serei mais branco que a neve.”
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