Essa ilustração se
aplica a todos nós. Quase todos nós usamos o nome de cristãos professos;
vivendo na Inglaterra, você consideraria uma desgraça se não fosse chamado de
cristão. Você não é pagão, não é infiel, não é nem muçulmano nem judeu. Você
acha que o nome cristão lhe é devido, e você o assumiu. Pois você pode ter
certeza de que ser chamado de cristão não equivale a ter natureza de cristão, e
que o fato de ter nascido num país cristão, e ser conhecido como alguém que
professa a religião cristã, não é garantia nenhuma se não lhe for acrescentado
mais alguma coisa — ser nascido de novo como súdito de Jesus Cristo.
— Mas — diz o índio, — estou disposto a
renunciar às minhas roupas típicas para vestir-me como um inglês. Vou me
adaptar em tudo; você não verá nenhuma diferença em relação à maneira usual
neste país. Quando eu tiver me vestido como manda a etiqueta, poderei vir à
presença do rei? Veja, não vou brandir a machadinha, vou tirar estas penas e
roupas de couro, vou jogar fora meus mocassins para sempre. Sou inglês de nome
e na maneira de ser.
Ele se aproxima do
portão vestido como um inglês, mas este continua fechado, porque a lei exige
que ele tenha nascido neste país; sem isto, não importa como ele se veste, ele
não pode entrar no palácio. Assim também, quantos de vocês, além de assumir o
nome de cristão, também adotaram um comportamento cristão? Vocês vão às suas
igrejas e capelas, freqüentam a casa de Deus, cuidam que sua família siga
alguma forma de religião; seus filhos não ficam sem ouvir o nome de Jesus! Até
aí tudo bem. Deus não permita que eu diga alguma palavra contra isso. Mas
lembrem: isso não vale nada se vocês não vão além. Tudo isso não serve de nada
para granjear admissão no reino do céu se não for acompanhado de — ser nascido
de novo. Sim! Vocês podem se vestir com a pompa da vida cristã, colocar o
chapéu da benevolência, cingir-se de integridade, vestir os sapatos da
perseverança e caminhar pela terra como pessoas honestas e direitas; mas
lembrem-se, se não forem nascidos de novo, "o que é da carne é carne",
e você, que não tem o Espírito atuando em você, ainda tem as portas do céu
fechadas porque não nasceu de novo.
— Está bem — diz o índio, — não só adotarei
a maneira de vestir, mas aprenderei a língua. Deixarei minha língua, o
dialeto que eu falava nos campos e florestas da minha terra. Não usarei mais o
xu-xu-gá e os outros nomes estranhos com que chamava os pássaros selvagens e os
animais, e vou falar como vocês falam e agir como vocês agem. Vou vestir-me
como vocês se vestem, adotar suas maneiras, falar do mesmo jeito, aprender seu
sotaque e a gramática certa; então, poderei entrar? Fiquei completamente
anglicizado; não posso ser recebido?
— Não — diz o guarda na
porta, — só admitimos pessoas nascidas neste país; você não pode entrar.
O mesmo acontecerá com
alguns de vocês. Vocês falam como cristãos, talvez com um tom um pouco forçado.
Vocês começaram a imitar tão bem que se consideram espirituais até um pouco
mais que os outros, e vocês se esforçam tanto que exatamente por isso podemos
perceber a falsificação. Mas para as pessoas em geral vocês parecem ser o tipo
certo de cristão. Vocês estudaram biografias, e às vezes contam histórias sobre
sua experiência com Deus. Vocês as copiaram das biografias de bons cristãos;
vocês andaram com cristãos e sabem como eles falam. Talvez vocês até têm um
jeito puritano; vocês andam pelo mundo como professores; quem os observasse,
não perceberia a diferença. Vocês são membros da igreja, foram batizados,
participam da Ceia do Senhor, talvez até sejam diáconos ou presbíteros,
estendem o cálice para os outros. Vocês são tudo o que cristãos podem ser, só
que não têm um coração cristão. Vocês são sepulcros caiados, cheios de podridão
por dentro, mesmo que bem enfeitados por fora. Tomem cuidado! É impressionante
como um pintor pode chegar perto da expressão da vida, e mesmo assim a tela
está morta e sem movimento; é igualmente impressionante como alguém pode
chegar perto de ser cristão e ser excluído do céu pela regra absoluta, por não
ser nascido de novo. Com toda sua profissão de fé, com toda a pompa da sua
alegada vida cristã e com todas as plumas esplêndidas da experiência, ele tem
de ser afastado dos portões do céu.
"Você não tem compaixão,
Sr. Spurgeon." Não me importo com o que você está dizendo. Não quero ter mais
compaixão do que Cristo. Não fui eu quem disse essas coisas: foi Cristo. Se
você tem algum problema com ele, resolva-o aqui. Não sou eu quem fiz esta
verdade, apenas sou seu porta-voz. Eu achei isto escrito: "Se alguém não
nascer de novo, não pode ver o reino de Deus."
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