Que lindo espetáculo
foi nessa manhã, quando olhamos para fora, e vimos o terreno todo coberto de
neve! Todas as árvores estavam vestidas de prata; no entanto, é quase um
insulto para a neve compará-la com a prata, pois a prata em seu nível mais
brilhante não é digna de ser comparada com o maravilhoso esplendor que se podia
ver em qualquer lugar em que as árvores pareciam adornadas com formosos
festões, sobre a terra que estava vestida de seu puro manto branco. Se
tivéssemos tomado um pedaço daquilo que chamamos de “papel branco” e o
colocássemos sobre a superfície da neve recém caída, se teria descoberto
repleto de sujeira ao comparar a folha com a neve imaculada. A cena dessa manhã
trás imediatamente a minha mente o texto: “Lava-me, e serei mais branco que a
neve.”
Oh, negro pecador, se
você crê em Jesus, não só será limpo em Seu sangue precioso até converter-se em
algo toleravelmente limpo, mas sim ficará branco, sim, você será: “mais branco
que a neve.”
Quando contemplamos o
puro branco da neve antes que fique suja, pareceu-nos como se não pudesse
existir nada mais branco. Eu sei que quando estive nos Alpes, contemplei
durante horas o deslumbrante branco da neve, e quase fui cegado por ela. Se a
neve ficasse largo tempo sobre o terreno, e se toda a terra fosse coberta dela,
prontamente todos nós ficaríamos cegos. Os olhos do homem sofreram também com
sua alma através do pecado, e tal como nossa alma seria incapaz de suportar uma
visão da pureza de Deus ao descoberto, assim nossos olhos não poderiam suportar
contemplar a poderosa pureza da neve. No entanto, o pecador, negro por causa do
pecado, ao ser lavado sob o poder limpador do sangue de Jesus, se volta “mais
branco que a neve.”
Agora, como pode um
pecador ser lavado para ficar “mais branco que a neve?” Bem, antes que nada, há
uma durabilidade na brancura de um pecador lavado com sangue que não existe
quanto à neve. Muito da neve que caiu essa manhã não tinha nada de branca à
tarde. Lá onde a neve havia começado a derreter, se mostrava amarela, mesmos
nos lugares onde nenhum pé de homem a tinha pisado – e, quanto à neve das ruas
de Londres, vocês sabem como rapidamente sua brancura some. Porém, não existe
temor de que a brancura que Deus dá a um pecador algum dia desapareça dele – o
vestido da justiça de Cristo que é colocado sobre ele, é permanentemente branco
–
“Essa veste sem mancha
se vê igual,
Quando a natureza
deteriorada de anos se acumula;
Nenhuma idade pode
mudar sua gloriosa tonalidade;
O manto de Cristo é
sempre novo”
Sempre é “mais branco
que a neve.” Alguns de vocês precisam viver em Londres, um lugar esfumaçado e
sujo, mas a fumaça e a sujeira não podem desbotar o vestido imaculado da
justiça de Cristo. Vocês mesmos estão manchados pelo pecado – porém, quando
estão vestidos com a justiça de Cristo diante de Deus, as manchas do pecado
desaparecem. Davi, em si mesmo, estava negro e sujo quando fez a oração de
nosso texto, porém, vestido na justiça de Cristo, estava branco e limpo. O
crente em Cristo é tão puro aos olhos de Deus na mesma hora, como também o é em
outra. O Senhor não olha a pureza variável de nossa santificação como nossa
base de aceitação com Ele; antes, olha a pureza imutável e incomparável da
pessoa e obra do Senhor Jesus Cristo, e nos aceita em Cristo, e não pelo que
somos em nós mesmos. Por essa razão, uma vez que somos aceitos Nele, somos
“mais branco que a neve.”
Mais ainda, o branco da
neve é, depois de tudo, só um branco criado. É algo que Deus fez, mas não têm a
pureza que pertence a Deus mesmo – porém, a justiça que Deus dá ao crente, é
uma justiça divina, como diz Paulo: “Aquele que não conheceu pecado, o fez
pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus. (2 Coríntios
5:21).” E lembrem que isso é certo no que toca ao próprio pecados, antes tão
negro que tinha que clamar a Deus: “mais branco que a neve.”
Poderia existir uma
pessoa que entrou nesse edifício, negra como a noite devido ao pecado – mas, se
agora é capacitada pela graça a confiar em Jesus, Seu sangue precioso a
limparia imediatamente, tão completamente, que seria “mais branco que a neve.”
A justificação não é uma obra que avança de grau em grau – não progride de uma
etapa para outra, antes, é uma obra de um momento, e é concluída
instantaneamente. O grandioso dom de Deus da vida eterna é concedido em um
instante, e você poderia ser incapaz mesmo de discernir o momento exato em que
é concedido. No entanto, poderia saber mesmo isso, pois, tão logo como crê no
Senhor Jesus Cristo, é nascido de Deus e passou da morte para vida – é salvo, e
salvo por toda eternidade. O ato de fé é algo muito simples, porém é o ato que
possa ser feito por um homem que mais glorifica a Deus. Ainda que não exista
nenhum mérito na fé, a fé é uma graça sumamente enobrecedora, e Cristo dá-lhe
uma alta honra quando diz: “Tua fé te salvou, vai em paz (Marcos 5:34).” Cristo
coloca a coroa da salvação sobre a cabeça da fé – no entanto, a fé mesma nunca
levará essa coroa, antes a coloca aos pés de Jesus, e dá a Ele toda honra e
toda glória.
Poderia existir alguma
pessoa nesse lugar que tenha medo de pensar que Cristo a salvará. Meu querido
amigo, faz-lhe a meu Mestre a honra de crer que não existe profundidade de
pecado no que poderia ter caído, que esteja alem do Seu alcance. Deves crer que
não existe pecado que seja muito negro para que não possa ser limpo
completamente pelo sangue precioso de Cristo, pois Ele há dito: “Todo o pecado
e blasfêmia se perdoará aos homens” (Mateus 12:31) , e “todo pecado,” tem que
incluir o teu. A própria grandeza da misericórdia de Deus é o que às vezes
deixa um pecador perplexo.
Permita-me usar uma
figura familiar para ilustrar o que quero dizer. Suponham que vocês estão
sentados à mesa de sua casa, cortando um pedaço de carne para o jantar, e
suponham que seu bicho de estimação está debaixo da mesa, esperando conseguir
um osso ou um pedaço de cartilagem como sua porção. Agora, se vocês colocassem
o prato com todo o pedaço de carne no chão, provavelmente o cãozinho teria medo
de tocar nele, porque poderia receber um chute – ele saberia que um cachorro
não merece uma comida como essa – e essa é justamente sua dificuldade, pobre
pecador. Você sabe que não merece essa graça que Deus se deleita em dar-lhe.
Porém, o fato de que seja de graça, deixa completamente de fora o tema do merecimento.
“Pela graça sois salvos, por meio da fé: isso não vem de vós, é dom de Deus.
(Efésios 2) ” Os dons de Deus são como Ele mesmo: imensuravelmente grandes.
Talvez alguns de vocês
pensem que estariam contentes com migalhas ou ossos da mesa de Deus. Bem, se
Ele me fosse dar umas quantas migalhas ou um punhado de carne, eu estaria
agradecido, inclusive por isso, mas não me satisfaria – mas quando ele me diz:
“Tu és meu filho. Eu te adotei e tens entrado em minha família, e já não sairás
jamais fora,” eu não estou de acordo contigo em que seja bom demais para ser
verdade. Poderia ser muito bom para você, mas não é demasiadamente bom para
Deus – Ele dá como só Ele pode dar. Se eu tivesse uma grande necessidade, e
conseguisse acesso a Rainha Vitória, e depois de expor meu caso a ela, me
dissera: “Sinto um profundo interesse em seu caso – aqui tem um centavo para
você,” eu estaria certo de que realmente não vi a Rainha, mas sim alguma
donzela ou empregada de alguma dama que estava gozando de minha cara. Oh, não,
a Rainha dá como uma rainha, e Deus dá como Deus! De tal forma que a grandeza
de Seu dom, em vez de nos deixar atônitos, só deveria nos assegurar de que é
genuíno, e que provêm de Deus.
Richard Baxter disse
sabiamente: “O Senhor, tem que ser uma grande misericórdia ou nenhuma
misericórdia, pois pouca misericórdia não me serve de nada!” Então, pecador,
apele ao grande Deus com seu grande pecado e peça uma grande misericórdia para
que sejas lavado na grande fonte cheia do sangue do grande sacrifício, e receberás
uma grande salvação que Cristo obteve, e por isso atribuirás um grande louvor
ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, por sempre e para sempre. Que Deus nos
conceda que assim seja por Jesus Cristo nosso Senhor! Amém.
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