“Dar-vos-ei
coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de
pedra e vos darei coração de carne.” — Ezequiel 36:26.
Você pode notar no
texto que Deus não tem prometido aperfeiçoar nossa natureza ou remendar nossos
corações partidos. Não, sua promessa consiste em nos dar um novo coração e um
espírito de retidão. A natureza humana está muito longe de ser apenas
melhorada. Não é como uma casa que precisa de pequenos reparos, tais como substituir
uma telha ou fazer um reboco no teto. Não, ela está completamente corrompida.
Até seu alicerce está arruinado. Do teto ao alicerce, não há uma viga sequer
que não tenha sido comida pelos cupins.
Não existe mais
solidez, está toda apodrecida e pronta para desabar. Deus não faz tentativas ou
experimentos com o homem; Ele não escora as paredes com estacas ou pinta
novamente as portas; não ornamenta e embeleza, mas determina que a velha casa
seja completamente derrubada, e uma nova seja construída em seu lugar. Como já
mencionei, isto é mais do que ser restaurada ou melhorada. Se apenas algumas
peças estivessem em mau estado, poderiam ser consertadas. Se tão somente uma ou
duas engrenagens desta grande máquina chamada “humanidade” estivessem
quebradas, o Criador colocaria tudo em ordem. Trocaria as peças quebradas,
substituiria a roda danificada, e a máquina voltaria a trabalhar. Pelo
contrário, os reparos são necessários por toda parte; não há sequer uma
alavanca que não esteja quebrada ou eixo sem estragos; nenhuma das engrenagens
funciona corretamente. A cabeça toda está doente e o coração completamente
debilitado. Da sola dos pés à cabeça, a raça humana está toda infestada de
chagas e feridas pútridas. Por isso, o Senhor, não pensa em apenas um simples reparo.
Ele diz: “Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei
de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne”.
Agora procurarei
mostrar que Deus é justificado nisto, e que houve uma necessidade abundante
para que adotasse a resolução de agir assim. Porque em primeiro lugar, se você
considerar o que a natureza humana era, e o que ela é, não passaria muito tempo
antes de você dizer: "Ah, este é deveras um caso sem esperança".
Considere então, por um momento quão má a natureza humana deve ser, se
pensarmos quão hostilmente ela tem tratado seu Deus. Recordo que William
Huntingdon disse em sua autobiografia, que uma das mais profundas sensações de
pena que teve, depois de ter sido vivificado pela graça divina foi esta:
"Ele sentiu lástima por Deus". Não sei se me deparei com esta
expressão em outro lugar, mas ela é muito expressiva; embora eu preferiria
dizer sentir simpatia para com Deus e pesar pelo mau trato que recebe. Ah, meus
amigos, há muitas pessoas que são esquecidas, que são desprezadas e
menosprezadas por seus companheiros; porém, jamais houve algum homem que tenha
sido tão desprezado como o eterno Deus tem sido. Muitos homens têm sido
difamados e ofendidos, mas nunca um homem foi tão ofendido como Deus tem sido.
Muitos têm sido tratados cruelmente e de forma ingrata, mas nunca alguém foi
tratado como o nosso Deus tem sido. Olhemos para nossas vidas passadas - quão
ingratamente tínhamos sido para com Ele! Ele nos deu a existência, e a primeira
palavra de nossos lábios deveria ter sido em Seu louvor; e enquanto vivermos
aqui, nosso dever é o de cantar perpetuamente Sua glória; porém em vez disto,
desde o nosso nascimento temos dito somente o que é falso, enganoso e ímpio; e
desde então temos continuado a fazer o mesmo. Nunca temos correspondido às Suas
muitas misericórdias com gratidão e agradecimento, mas as temos esquecido sem
um único aleluia, crendo, em nossa indiferença para com o Altíssimo, que
estávamos tentando esquecer Deus porque Ele havia se esquecido totalmente de nós.
Pensamos tão raramente nEle que bem se poderia imaginar que, certamente, Deus
nunca nos deu ocasião para pensarmos nEle. Addison disse: "Quando todas as
tuas misericórdias, Oh meu Deus, Minha alma nascente analisa, Transportada com
a visão, me perco Em maravilha, amor e louvor".
Porém eu creio que, se
olharmos para trás com olhos de penitência,
seremos imersos em assombrosa vergonha e tristeza, porque nosso choro
será: "Como pude tratar tão mal a um amigo tão bom? Como pude esquecer-me de tão misericordioso e
benfeitor, e não haver abraçado nunca a um pai tão dedicado? Como nunca LHE dei
o beijo de minha amorosa gratidão? Como nunca busquei a forma de fazer algo
para indicar-LHE que apreciava Sua bondade, e que sentia um grato retorno de
Seu amor em meu coração?" Porém, pior do que isto, nós não temos somente
nos esquecido dEle, mas temos nos rebelado contra Ele. Temos assaltado o
Altíssimo.
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